29 março 2024

A poderosa máquina bolsonarista de produção de fake news

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Desde o ano de 2019, quando a jornalista Patrícia Campos Mello revelou ao mundo a existência e descreveu o funcionamento das engrenagens do denominado Gabinete do Ódio, tenho escrito textos falando sobre essa estrutura que constitui verdadeira indústria bolsonarista de produção e difusão, em larga escala, com impulsionamento pago, de fake news.

A vitória de Bolsonaro nas eleições de 2018 se deveu, em boa medida, a alguns fatores convergentes, dentre eles: 1) a operação lava jato; 2) a prisão de Lula; 3) a facada; 4) o Gabinete do Ódio. Essa poderosa máquina de promover o linchamento moral e a execração pública de adversários ajudou a conferir o upgrade necessário à figura do então candidato, por fim eleito. Em condições normais de temperatura e pressão, jamais um ser humano tão medíocre chegaria tão longe.

De 2018 a 2022, embora o campo da esquerda progressista tenha avançado muito em sua comunicação digital, recuperando um pouco do terreno perdido, a máquina bolsonarista seguiu em funcionamento desde então, se aperfeiçoou, diversificou e intensificou a produção e difusão de suas mentiras. No lugar do fantasioso kit gay, da inexistente mamadeira de piroca e do tenebroso pacto com o demônio entraram a velha ameaça de implantação do comunismo, o fechamento de igrejas, o ensino de ideologia de gênero nas escolas, a implantação de banheiros unissex nas universidades, o aborto e a liberação das drogas, dentre outras.

A verdade precisa ser dita: Lula governou o Brasil por oito anos e Dilma, por mais seis. Nunca chegamos nem perto do “comunismo”, muito menos de nos tornarmos uma Venezuela, Nicarágua, Cuba ou qualquer coisa que o valha, seja lá o que isso queira dizer. Não houve nenhuma inflexão do governo que indicasse que estávamos caminhando nessa direção. Ao contrário, o que se viu foi o fortalecimento do capitalismo de Estado, com a inclusão de uma grande massa da população excluída no mercado de consumo, por intermédio de uma política de geração de empregos mediante investimentos públicos (sobretudo, obras), elevação do poder de compra do salário mínimo e acesso ao crédito.

Da mesma forma como em suas gestões anteriores, quando vencer as eleições e retornar ao poder, Lula não vai fechar igrejas; não é a favor da realização indiscriminada de abortos (salvo nas hipóteses previstas em lei); não vai obrigar ninguém a ensinar “ideologia de gênero” nas escolas (mas, sim, promover a adequada educação sexual para que crianças saibam identificar os casos em que possam estar sendo vítimas de abuso); não vai criar banheiros unissex nas universidades (mas respeitar o direito dos que não são heteronormativos, combatendo a homofobia, a misoginia e a transfobia); não é a favor da liberação ou do estímulo ao uso de drogas (mas sim da descriminalização dos usuários, transformando o debate em torno do tema em questão de saúde pública e não somente de segurança pública)… Simples assim!

Para se ter ideia do nível a que se pode chegar esse jogo sujo, na semana que passou, André Valadão, um mercador da fé bolsonarista, gravou vídeo se retratando por fake news proferidas anteriormente contra Lula, segundo ele, por decisão judicial do TSE. Mas, essa decisão não existe! Tudo não passou de uma encenação, utilizada como pretexto para afirmar que ele estaria sendo vítima de censura, de perseguição, de cerceamento de sua liberdade de expressão.

Ora, combater desinformação e fake news não é censura. Censura é colocar obstáculos ou impedir o exercício da liberdade de expressão de outrem. Impedir a propagação sistemática e proposital de mentiras, que causam danos à sociedade é dever cívico. A liberdade de expressão tem limites. Críticas são uma coisa, mentiras, ataques e ofensas, outras bem diferentes. No dizer do ministro Alexandre de Moraes, “liberdade de expressão não é liberdade para agressão. E democracia não é anarquia.” Ou como no dizer do Prof. Vinícius Lemos: “liberdade de expressão é você poder falar, nunca será você não arcar com as consequências do que disse. Não é salvo conduto. Nunca será.”

De outra banda, enquanto produz e espalha suas mentiras pelas redes sociais, detratando adversários e gerando uma espessa cortina de fumaça sobre seus malfeitos, Bolsonaro prepara o seu novo pacote de maldades contra os trabalhadores. Ele tentou negar, mas, na mesma entrevista concedida em um famoso podcast, confirmou a chamada “desindexação” do Salário Mínimo (SM). Isso quer dizer que o reajuste anual do SM e benefícios previdenciários que, com Lula, ocorria pela soma da INFLAÇÃO + PIB e com Bolsonaro ficou só com a INFLAÇÃO passaria a ser aleatório, conforme a previsão inflacionária de início de ano. Tal arrocho, que estava sendo mantido em sigilo e foi revelado pelo deputado federal André Janones, vai aumentar a pobreza no Brasil. Se for aprovado, 75 milhões de brasileiros ficarão mais pobres.

O fato é que não se pode usar a liberdade de expressão para atentar contra ela própria. Assim como não se pode espalhar mentiras ou notícias falsas de forma deliberada, como se verdadeiras fossem: nem para desancar adversários e, muito menos, para desviar a atenção das pessoas do que de fato importa. Isso não é liberdade: é crime. Aprendamos, de uma vez por todas.

 

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