19 abril 2024

Boate Kiss: Sobrevivente relata mulher de vermelho e viraliza nas redes sociais

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Em seu perfil profissional no Instagram, a fisioterapeuta pediátrica Jéssica Duarte, fez uma série de vídeos em que conta sua experiência como sobrevivente do incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. A tragédia deixou 242 mortos e 636 feridos. As postagens foram repostadas em diversas redes sociais e acabaram viralizando.

Na época do desastre, Jéssica tinha 20 anos. Ela teve cerca de 40% do corpo queimado naquele dia 27 de janeiro e, por conta das feridas, ficou por 25 dias na UTI. Atualmente, com 30 anos e morando em Curitiba, Jéssica é mãe e ainda convive com as marcas da tragédia pelo corpo.

Um dia antes do aniversário de 10 anos do caso, ela abriu uma caixinha de perguntas para compartilhar suas vivências com seus seguidores. Jéssica foi para Santa Maria para cursar Administração na Federal de Santa Maria e iria tentar vestibular para Engenharia Química em 2013, quando tudo mudou. “Eu não queria ir para a Kiss, não curtia muito, só que o Bruno queria ir, ele curtia a banda. A gente tentou ir para outro bar, mas a fila estava imensa e acabamos indo para lá. A gente ficou uma hora e meia, duas horas no máximo”, lembrou.

“A única coisa que passou pela minha cabeça na hora foi ‘sério que vai acabar assim?’. Eu comecei a cantar alguns cantos da umbanda, que vieram na minha cabeça e eu só pensava que aquilo não fazia sentido”, resumiu.

Jéssica conta que foi retirada inconsciente da boate e que foi salva por outro sobrevivente. Foi um menino que estava lá no dia e, quando ele estava saindo em direção a porta e de repente sentiu alguém tocar o pé dele. Esse alguém era eu, só eu estava desacordada. Aí fez respiração boca a boca, massagem cardíaca, até que eu voltei. Não fui retirada pelos bombeiros, foi esse anjo que sentiu minha presença ali e teve a coragem de me tirar lá de dentro”, contou.

“Eu consegui sair de lá de dentro e eu não sabia onde estava meu ex-namorado. Depois eu descobri que ele conseguiu sair consciente, só que ele voltou inúmeras vezes para tentar me tirar lá de dentro. Foram nessas inúmeras tentativas que ele inalou muita fumaça e ficou num estado pulmonar muito grave. Por anos, eu fiquei na cabeça que, se eu tivesse conseguido sair com ele, ele não precisava ter saído e voltado tantas vezes e isso não teria acontecido”, revelou aos seguidores. Bruno, seu ex-namorado, acabou morrendo em decorrência do acidente.

Depois de ir para o hospital, os pais da jovem a “blindaram” das notícias, e, por muito tempo, ela não sabia o que tinha acontecido. “Achei que era só eu que estava no hospital. A gente tinha uma viagem marcada, eu e o Bruno, e eu achei que ele tinha ido viajar e me deixado no hospital”, lembrou. Jéssica só ficou sabendo da proporção da tragédia 15 dias depois que ela já tinha acordado, no mesmo dia em que recebeu a visita do irmão melhor.

Cicatrizes dos traumas

Jéssica se define como uma pessoa com muitos traumas que precisam ser tratados. E que a tragédia mudou completamente quem ela é. “Minha vida são dois períodos: um antes e um depois do incêndio. E quem me conhecia antes sabe que são duas pessoas completamente diferentes”, publicou nos stories.

Ela diz que não acredita que leva uma vida normal, mesmo tendo se passado 10 anos, ter mudado de cidade e constituído um novo momento na sua trajetória pessoal e profissional. “Meu grande trauma foi perder uma pessoa que eu amava muito, todo o resto ficou pequeno diante disso. Tudo que aconteceu comigo não faz que minha vida seja normal, mas estar ativa na terapia me ajuda muito e exercício físico também. E, para mim, o que me fez ter uma vida mais leve foi ter saído de Santa Maria e ter me isolado de tudo que aconteceu”, confessou. Jéssica contou que ainda tem contato com a família de Bruno e ainda sente pela morte do namorado.

Nas série de vídeos, a fisioterapeuta comentou o lançamento do documentário “Boate Kiss – a tragédia de Santa Maria”, da Globoplay, e da série “Todo dia a mesma noite”, da Netflix. “O público está bem dividido, tanto por sobreviventes, pais, familiares, amigos, tanto por pessoas aleatórias que não viveram isso. Eu, Jessica, acho que deveria existir. Quanto mais a gente falar, menos chance tem de acontecer de novo. Vai poder repassar para vocês o que a gente passou detalhadamente”, apontou, ressaltando que é a sua visão individual.

A mulher de vermelho

Um dos vídeos de Jéssica que mais viralizou foi o que ela comenta sobre “A mulher de vermelho”, que virou uma espécie de lenda macabra sobre a tragédia. A fisioterapeuta conta que, quando estava no hospital, ela via uma mulher vestida de vermelho quando fechava os olhos. “Eu tomava medicamentos muito fortes e eu não conseguia descansar. Eu lembro que não conseguia descansar porque toda vez que eu fechava os olhos, eu via uma mulher de vermelho que me chamava para algo muito ruim e, por isso, eu não gostava de dormir. Era uma energia muito ruim”, contou o que define ser um delírio.

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