Um estudo conduzido pelas universidades de Lyon, na França, e Quebec, no Canadá, revelou que o uso da cloroquina no tratamento da COVID-19 resultou na morte de quase 17 mil pessoas nos países ricos durante a primeira onda da pandemia, em 2020. Os dados foram publicados na revista científica Biomedicine & Pharmacotherapy, com previsão de circulação em fevereiro deste ano.
A pesquisa analisou dados de hospitalização em seis países, onde pacientes foram expostos à cloroquina. O estudo apontou um aumento significativo no risco de morte, especialmente devido a distúrbios do ritmo cardíaco. Originalmente destinada ao tratamento da malária, a cloroquina foi administrada a pacientes com COVID-19, mesmo diante da falta de evidências documentadas de benefícios clínicos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), após extensa pesquisa, alertou que não havia evidências de benefícios do medicamento para pacientes com COVID-19, enquanto especialistas destacaram os potenciais efeitos colaterais do tratamento. Em muitos países, a cloroquina foi removida dos protocolos de combate à COVID-19.
No Brasil, durante o governo de Jair Bolsonaro, houve um aumento no fornecimento de cloroquina, com o próprio ex-presidente promovendo o medicamento, apesar da ausência de respaldo científico. A pesquisa agora examinou dados de França, Bélgica, Itália, Espanha, EUA e Turquia, indicando que 16,9 mil pessoas poderiam ter morrido devido ao tratamento.
Os pesquisadores alertam que esses números podem ser apenas o início de uma investigação mais ampla sobre o impacto real da cloroquina, uma vez que o medicamento foi distribuído em vários outros países nos primeiros meses da pandemia. No Brasil e nos EUA, o tratamento foi defendido pela extrema direita.
“A prescrição off-label pode ser apropriada quando os médicos julgam ter evidências suficientes para sugerir o benefício da medicação. Entretanto, a primeira série que relatou o efeito da HCQ mostrou eficácia limitada ou nenhuma eficácia na redução da mortalidade”, alertou o estudo. A toxicidade da cloroquina em pacientes com COVID-19 é parcialmente atribuída a efeitos colaterais cardíacos, incluindo distúrbios de condução.
Os autores do estudo enfatizam que esses números provavelmente subestimam amplamente o número real de mortes relacionadas à hidroxicloroquina em todo o mundo.
Fonte: UOL