Uma nova espécie vegetariana semelhante à piranha descoberta por cientistas na Amazônia brasileira foi batizada de Sauron em homenagem a um dos famosos vilões de “Senhor dos Anéis”, do escritor J.R.R. Tolkien, anunciou nesta terça-feira o Museu de História Natural do Reino Unido.
O animal tem um corpo redondo e uma grande faixa preta na lateral. De acordo com os pesquisadores, diferentemente do seu homônimo, o peixe é “muito menos sanguinário” — na verdade, se alimenta basicamente de plantas.
A espécie é uma das duas que foram recentemente nomeadas por cientistas como parte de um esforço para compreender melhor os peixes que vivem dentro e ao redor do Rio Amazonas.
“O recém-descrito Myloplus sauron destaca o pouco que sabemos sobre a biodiversidade da América do Sul e o quanto ainda há para descobrir”, afirmou o museu.
Curador-sênior da área de Peixes do Museu de História Natural britânico, Rupert Collins foi um dos cientistas que assinou o estudo, publicado na revista Neotropical Ichthyology. Segundo ele, a sugestão do nome partiu de um colega, e os demais logo o acharam “perfeito” para a nova espécie.
“Seu padrão se parece muito com o Olho de Sauron, especialmente com as manchas laranja em seu corpo”, explicou o cientista, em declarações reproduzidas pelo site do museu. “Com tanta biodiversidade não-descrita na Amazônia e nos rios vizinhos, o nome também é um bom lembrete para ficar de olho nas espécies não-descritas na América do Sul.”
Piranhas: peixes incompreendidos da América do Sul
Na nota em que destaca a recente nomeação de Myloplus sauron, o Museu de História Natural britânico ressalta que, para além da fama de vilões em filmes e séries, piranhas e espécies semelhantes não merecem tal reputação “de peixes sedentos de sangue”. São, sim, conhecidas por morder, com dentição afiada. Mas Rupert Collins explica que as declarações de um ex-presidente dos Estados Unidos forjaram o imaginário popular sobre esses animais.
“O ex-presidente dos EUA, Teddy Roosevelt (…) escreveu sobre uma vaca sendo despedaçada na sua frente durante uma visita à América do Sul, consolidando sua imagem feroz na consciência pública”, disse Collins. “O que realmente aconteceu foi que as piranhas foram presas em redes e morreram de fome, levando-as a um frenesi alimentar quando a vaca foi empurrada para a água. Geralmente, os peixes só atacam assim quando estão com muita fome ou defendendo seus ninhos”.
Pesquisadores afirmam que muitas espécies descritas como “piranhas” não são carnívoras. Algumas delas são peixes “pacu”, que não dispõem de dentes tão afiados e se alimentam de plantas e frutas. Diferenciar os animais da família Serrasalmidae é um desafio histórico para especialistas, já que as características externas pouco se distinguem, e a genética é complexa de desvendar.
“Muitas espécies foram estabelecidas usando diferenças nos dentes, mas dentes semelhantes surgiram repetidamente em peixes de parentesco distante”, explica o pesquisador. “Eles também podem parecer muito diferentes em cada fase da sua vida, com uma espécie contendo animais com muitas aparências”.
Até recentemente, os cientistas apontavam com segurança a existência de uma espécie em rios da América do Sul: a Myloplus schomburgkii, descrita em 1841. Mas novos estudos indicaram que havia nesses animais três grupos genéticos distintos. Mais tarde, ficou comprovado que era DNA de outras duas espécies: M. sauron e M. aylan.
“Mais amplamente, não havia provas suficientes para sugerir se estas três espécies descendem todas de um ancestral comum ou se evoluíram de forma convergente. Por enquanto, nós deixamos no gênero Myloplus, mas elas podem ser movidas no futuro”, ressaltou o especialista.
Por O Globo