7 maio 2025

Filme ‘Geni e o Zepelim’ será gravado no Acre com atriz trans no papel principal após polêmica nacional

spot_imgspot_imgspot_imgspot_img

A produção do filme Geni e o Zepelim, inspirado na emblemática canção de Chico Buarque, ganhou repercussão nacional nas últimas semanas após sofrer críticas de ativistas e movimentos LGBTQIA+. O motivo: a escolha inicial de uma atriz cisgênero, Thainá Duarte, para interpretar a protagonista travesti da história.

Com parte do orçamento captado via leis de incentivo à cultura e com a proposta de valorizar a diversidade e representatividade de gênero, a decisão da produção gerou desconforto e protestos nas redes sociais. Após a repercussão, a diretora Anna Muylaert decidiu substituir a protagonista por uma atriz trans, ainda não anunciada oficialmente.

Trama intensa em solo acreano

O filme será rodado em locações no Acre, incluindo áreas ribeirinhas e pontos da floresta amazônica. A escolha da região reforça o compromisso da produção em aproximar o roteiro da realidade retratada, além de valorizar o cenário amazônico e a cultura local.

A história acompanha a trajetória de Geni, uma travesti prostituta que vive à margem da sociedade em uma cidade fictícia localizada no coração da Amazônia. Geni é vista com desprezo por grande parte da população, mas é querida por figuras marginalizadas. Quando um grupo de invasores chega à região para desmatar a floresta e se estabelecer economicamente, a população se vê ameaçada.

Nesse contexto, surge um comandante estrangeiro, que aparece em um zepelim — remetendo diretamente à letra de Chico Buarque — e se encanta por Geni. A partir daí, a personagem se torna alvo de manipulação e interesses coletivos. Pressionada por aqueles que a desprezavam, ela é forçada a se sacrificar em nome de uma suposta salvação da comunidade.

Representatividade em foco

A polêmica em torno da escalação da atriz principal trouxe à tona um debate que há anos movimenta o meio artístico: a importância da representatividade real nas produções audiovisuais. Para movimentos sociais, oferecer o papel de uma travesti a uma atriz cis perpetua a exclusão de pessoas trans dos espaços de protagonismo — principalmente quando o roteiro é centrado exatamente nessa vivência.

A diretora Anna Muylaert, conhecida por obras como Que Horas Ela Volta?, reconheceu a falha e afirmou que a mudança visa alinhar a produção com o compromisso ético que defende. “Foi uma escuta necessária. Essa personagem precisa ser vivida por alguém que conheça profundamente a dor, a força e a humanidade de Geni”, declarou em nota.

Cinema e Amazônia: território de resistência

A decisão de gravar o filme no Acre também representa um marco para o audiovisual na região Norte. O estado, muitas vezes negligenciado nos grandes centros de produção cultural, se torna cenário de uma obra que promete repercussão nacional. Para os produtores, a ambientação é parte fundamental da narrativa, já que a floresta amazônica será um dos elementos centrais da trama — tanto como cenário, quanto como símbolo de resistência.

Além disso, a produção deve movimentar a economia local com geração de empregos temporários e envolvimento de profissionais da região, o que contribui para fortalecer o setor cultural do Acre.

Expectativas e impacto social

Ainda sem data oficial para o início das filmagens, Geni e o Zepelim já está entre os filmes brasileiros mais comentados de 2025. A combinação entre uma trama carregada de simbolismo, a ambientação amazônica e o protagonismo trans promete abrir espaço para discussões urgentes sobre identidade de gênero, justiça social e preservação ambiental.

O longa tem potencial para se tornar um marco do cinema contemporâneo nacional, não apenas pela sua abordagem artística, mas também pelo impacto cultural e social que carrega. A expectativa é que a obra contribua para a conscientização sobre a importância da inclusão e da valorização da diversidade, tanto nas telas quanto fora delas.

Veja Mais