12 abril 2025

Tumba gigante em Abidos pode reescrever a história do Egito Antigo

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Tumba da dinastia de Abidos, no Egito • Dr. Josef Wegner for the Penn Museum

Uma descoberta arqueológica feita em Abidos, no Egito, pode mudar o entendimento sobre um dos períodos mais misteriosos da história egípcia. Uma equipe liderada pelo egiptólogo Josef Wegner, da Universidade da Pensilvânia, encontrou uma tumba de grandes proporções que pode ter pertencido a um rei até hoje desconhecido, que governou o Alto Egito há mais de 3.600 anos.

A câmara funerária, feita de calcário e composta por vários cômodos, foi descoberta em janeiro de 2025 em uma antiga necrópole conhecida como a “Montanha de Anúbis” — um local sagrado para os antigos egípcios. A estrutura, a maior já encontrada entre os túmulos da chamada Dinastia de Abidos, foi identificada por suas características arquitetônicas e por pinturas das deusas Ísis e Néftis, frequentemente associadas a rituais funerários.

Apesar da grandiosidade da construção, o nome do rei sepultado ali permanece um mistério. Saqueadores antigos danificaram os hieróglifos na entrada da tumba, apagando a identidade de seu ocupante. Não foram encontrados restos humanos no local, o que dificulta ainda mais a identificação.

A Dinastia de Abidos governou durante o Segundo Período Intermediário do Egito (1640–1540 a.C.), uma era de fragmentação política em que o país era dividido entre diferentes reinos rivais. Esse grupo de governantes, raramente mencionado nos registros oficiais, só começou a ser reconhecido após descobertas arqueológicas recentes. Em escavações anteriores, a mesma equipe de Wegner revelou a tumba do rei Seneb-Kay, o único até agora identificado com nome e título.

A nova tumba, por ser maior e mais elaborada, pode ter pertencido a um antecessor de Seneb-Kay, possivelmente um rei conhecido como Senaiib ou Paentjeni — ou até mesmo a um governante completamente desconhecido. “É possível que existam 12 ou 15 reis nesta dinastia esquecida, cujos nomes foram simplesmente apagados da história tradicional”, explicou Wegner.

Tumba da dinastia de Abidos, no Egito • Dr. Josef Wegner for the Penn Museum

A necrópole de Abidos foi considerada pelos antigos egípcios como o local de descanso de Osíris, deus do submundo, e abrigou túmulos de faraós desde as primeiras dinastias. A atual descoberta reforça a importância da região e sugere que o local pode conter ainda mais túmulos de reis que não constam nos registros oficiais.

A arqueóloga Salima Ikram, da Universidade Americana do Cairo, acredita que a descoberta ajuda a preencher lacunas históricas: “Ela nos dá mais informações sobre a arquitetura funerária, sobre a ordem dos reis e confirma que Abidos era um centro real mais importante do que se pensava.”

Para avançar nas investigações, os arqueólogos pretendem usar tecnologias como radar de penetração no solo e magnetometria para explorar uma área de mais de 10 mil metros quadrados. A esperança é encontrar novas câmaras funerárias e, com elas, mais informações sobre essa enigmática dinastia.

“Descobertas como essa mostram que os registros lineares dos reis egípcios não contavam toda a história”, afirma a egiptóloga Laurel Bestock, da Universidade Brown. “Esses achados revelam os capítulos esquecidos, suprimidos pelos próprios faraós que reescreveram a narrativa oficial.”

Embora a identidade do rei ainda não tenha sido revelada, os arqueólogos seguem esperançosos. “A arqueologia tem seus mistérios e surpresas”, diz Wegner. “Cada escavação nos aproxima mais de entender quem realmente governou o Egito durante os seus períodos mais obscuros.”

Com informações da CNN Brasil.

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