
O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) está no centro de um escândalo que vem chocando o país: a concessão irregular de empréstimos consignados com a participação de servidores públicos e instituições financeiras. As investigações da Polícia Federal revelam um esquema que pode ter lesado milhares de aposentados e pensionistas em diversas regiões do Brasil.
Na chamada Operação Unlocked, deflagrada no final de 2024, agentes federais descobriram que uma estagiária do INSS em Mutuípe, na Bahia, desbloqueava benefícios previdenciários de forma ilegal, permitindo a contratação de empréstimos consignados sem o consentimento dos beneficiários. O esquema funcionava com o apoio de uma agente financeira local, que repassava listas de nomes à servidora para liberação indevida dos créditos.
Além de funcionários públicos, grandes instituições financeiras também estão sob investigação. O Banco PAN, um dos principais operadores de crédito consignado do país, já foi alvo de múltiplas ações judiciais e sanções administrativas por práticas irregulares. Em 2021, o Procon-SP aplicou multa de R$ 11 milhões à instituição por não responder adequadamente sobre queixas de empréstimos não autorizados. Já em 2023, o banco foi condenado pela Justiça de Minas Gerais a pagar R$ 10 milhões por danos morais coletivos.
As fraudes geralmente envolvem idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade, que muitas vezes só percebem o golpe após descontos aparecerem nos extratos mensais. “É desesperador. A pessoa descobre que está pagando por algo que nunca contratou, e a restituição pode demorar meses”, disse Maria do Socorro, aposentada lesada pelo golpe em Manaus.
Para tentar conter os danos, o INSS adotou novas medidas de segurança. Em janeiro de 2025, uma resolução passou a determinar o bloqueio automático de descontos em caso de suspeita de fraude ou reclamação do beneficiário. O INSS também reforçou a orientação para que aposentados e pensionistas bloqueiem, preventivamente, a possibilidade de contratar empréstimos consignados através do portal Meu INSS ou pelo telefone 135.
O Ministério da Previdência reforçou que está colaborando com a Polícia Federal para identificar os envolvidos e recuperar os valores desviados. Fontes da investigação apontam que novas fases da operação devem atingir mais cidades e outras instituições financeiras.
Enquanto isso, especialistas em direito do consumidor alertam para a necessidade de mudanças mais profundas no sistema. “As brechas que permitem esse tipo de golpe ainda estão abertas. É preciso responsabilizar as instituições financeiras que lucram com essas fraudes”, afirma o advogado João Carlos Martins, especialista em direito bancário.
O caso segue em apuração e deve repercutir fortemente nos próximos meses, com potencial de gerar mudanças estruturais na forma como o crédito consignado é operado no Brasil.