A recente resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), que reduz o Índice de Massa Corporal (IMC) mínimo para indicação da cirurgia bariátrica, foi considerada um dos avanços mais relevantes na abordagem médica da obesidade nos últimos anos. A mudança amplia o acesso ao procedimento para pacientes com menor grau de obesidade, especialmente aqueles que apresentam comorbidades associadas. No entanto, especialistas fazem um alerta: a bariátrica é um tratamento eficaz, mas não representa cura da obesidade.
De acordo com o novo texto, a cirurgia pode ser indicada para pacientes com IMC a partir de 30, desde que haja doenças associadas como diabetes tipo 2, hipertensão, apneia do sono, entre outras. Anteriormente, o limite mínimo era de 35. Para o médico cirurgião bariátrico Dr. Marcelo Lima, a medida é um avanço significativo, especialmente para pacientes que enfrentam resistência ao tratamento clínico convencional.
“É um marco no cuidado com a obesidade. Com a nova regra, conseguimos atuar preventivamente, antes que as comorbidades avancem e comprometam de forma mais grave a saúde do paciente. Mas é importante destacar que a cirurgia não elimina a doença — ela precisa ser acompanhada por mudanças definitivas no estilo de vida”, explicou o especialista.
Dr. Marcelo alerta que, apesar dos resultados promissores da cirurgia em termos de perda de peso e controle de doenças metabólicas, muitos pacientes recuperam parte do peso perdido se não mantiverem o acompanhamento multidisciplinar. Ele ressalta que a obesidade é uma condição crônica, multifatorial e que exige mudanças duradouras.
“É preciso uma reeducação alimentar, prática regular de atividade física, suporte psicológico e acompanhamento médico. A bariátrica não é mágica. O sucesso depende, em grande parte, da adesão do paciente ao tratamento como um todo”, reforçou.
A obesidade é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos maiores problemas de saúde pública do século, afetando mais de 650 milhões de adultos no mundo. No Brasil, os números também são alarmantes: dados recentes apontam que um em cada quatro brasileiros está obeso, e mais da metade da população está com sobrepeso.
A decisão do CFM leva em conta evidências científicas recentes que demonstram que intervenções cirúrgicas em estágios menos avançados da obesidade podem oferecer melhores resultados a longo prazo, reduzindo a incidência de complicações graves e o custo do tratamento para o sistema de saúde.
Além disso, o novo texto da resolução também atualizou orientações sobre os tipos de cirurgia, uso de técnicas menos invasivas, como a gastrectomia vertical (sleeve), e a importância do preparo psicológico antes e depois do procedimento.
Para pacientes que se enquadram nos critérios da nova resolução, o médico recomenda buscar informação confiável e avaliação com equipe especializada. “Cada caso precisa ser estudado individualmente. Nem todo mundo que tem IMC acima de 30 deve fazer a cirurgia. É uma decisão médica, técnica e pessoal, que deve ser tomada com responsabilidade e conhecimento”, afirma.
O alerta final do especialista é direto: tratar a obesidade exige comprometimento contínuo. “A cirurgia pode ser o começo de uma nova vida, mas não substitui o esforço diário por saúde.”