
No bairro Sobral, em Rio Branco (AC), a barraca simples de madeira coberta por lona já virou ponto fixo para quem deseja saborear a tradicional “baixaria” — prato típico do Acre. Mas por trás da panela quente e do cheiro de tempero que invade a rua ao amanhecer, está Antônia Maria da Silva, ou simplesmente “Toinha”, como é carinhosamente conhecida pelos fregueses e vizinhos.
Hoje com 56 anos, ela é mãe de três filhos — dois professores e uma técnica de enfermagem — que se tornaram motivo de orgulho para a mulher que enfrentou a vida com coragem. “Não teve pai, não teve pensão, não teve luxo. Teve luta, fé e panela no fogo”, resume com olhos marejados enquanto mexe a carne moída no fogão improvisado. Para ela, o Dia das Mães é mais que uma data comemorativa: é uma vitória celebrada todos os dias.

Acordando às 4h da manhã por mais de duas décadas, Toinha encontrou na venda de café da manhã a saída para alimentar e educar os filhos. “Comecei com um banquinho e um isopor. Vendia café preto, tapioca e a baixaria. Com o tempo, fui melhorando, comprei um fogão, uma barraca, e hoje tenho meus fregueses fixos que me ajudam a não desistir”, conta emocionada.
A “baixaria”, prato que mistura carne moída, farinha, vinagrete e ovo frito, ganhou fama pela dedicação de Toinha no preparo. Mas foi muito além da comida. Ela conquistou a vizinhança com sua generosidade, sempre guardando um prato para aquele cliente que estava desempregado ou sem dinheiro.

A trajetória de Toinha é também um retrato da força das mães brasileiras que sustentam lares com trabalho informal, dignidade e esperança. “Muita gente me dizia que vender comida na rua era vergonha. Eu nunca me importei. Vergonha é abandonar filho, é não lutar. Eu dei tudo que tinha: amor e comida quente”, declara.
Hoje, seus filhos reconhecem todo o esforço da mãe. “Minha mãe é minha heroína. Não foi só o arroz e feijão que ela garantiu. Foi educação, foi afeto, foi exemplo. Ela nos ensinou que dignidade não tem preço”, diz André, o filho mais velho, que concluiu a faculdade de História graças ao apoio da mãe.
Além da vida dura de vendedora ambulante, Toinha também enfrentou doenças, perdas e momentos em que pensou em desistir. Mas o amor pelos filhos sempre falou mais alto. “Eu dizia: ‘Enquanto eles precisarem de mim, eu não vou cair’. Hoje, eles cuidam de mim, mas se eu puder, sigo vendendo minha baixaria. É meu orgulho”, afirma com um sorriso.

Neste Dia das Mães, a história de Toinha representa tantas outras mulheres anônimas que, com coragem e amor, escrevem histórias de superação pelas ruas do Acre. Que seu exemplo inspire e valorize o papel essencial das mães na formação de uma sociedade mais justa e humana.