
Desde que foi submetida à cirurgia bariátrica em abril deste ano, Maria Alcinete Tomé já eliminou 13 quilos e recuperou sua disposição para retomar a rotina. Empregada doméstica e mãe de uma criança com deficiência, ela enfrentava dificuldades até para trabalhar. “Durante a pandemia ganhei muito peso. Cheguei a passar dos cem quilos. Isso atrapalhava minha vida toda. Hoje, posso dizer que estou renascendo”, conta.
Maria foi uma das beneficiadas pelo Programa de Obesidade do governo do Acre, que retomou as cirurgias bariátricas no sistema público em 2023, após um período de interrupção. Somente em 2025, cerca de 40 cirurgias já foram realizadas com sucesso na Fundação Hospitalar do Acre (Fundhacre), em Rio Branco.
O procedimento, realizado toda terça-feira, faz parte de uma política pública de saúde promovida pela Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre), com foco na melhoria da qualidade de vida de pacientes com obesidade grave. Para Maria, o atendimento recebido foi decisivo. “Fui bem acolhida em todas as etapas. Dou nota 10 para toda a equipe”, relata.
Segundo o cirurgião Romeu Delilo, responsável pelos procedimentos, a bariátrica é uma opção eficaz e segura para pacientes que já tentaram outras formas de emagrecimento e não obtiveram resultado. “A cirurgia ajuda no controle de doenças como diabetes, hipertensão, colesterol alto, problemas cardíacos e respiratórios. E o mais importante: devolve qualidade de vida e esperança”, explica.
Estudos recentes mostram que pacientes que realizam a cirurgia podem viver, em média, seis anos a mais do que viveriam com obesidade grave não tratada.

Acompanhamento completo e gratuito
O Programa de Obesidade do Acre existe desde 2004 e oferece um tratamento completo, com acompanhamento clínico e cirúrgico. Atualmente, cerca de 950 pacientes estão em processo de acompanhamento, e outros 41 já estão aptos e aguardam na fila para cirurgia, segundo o coordenador do programa, Warcron Neves.
O trabalho é feito por uma equipe multidisciplinar composta por psicólogos, nutricionistas, endocrinologistas, psiquiatras, cirurgiões, entre outros profissionais. Os pacientes recebem acompanhamento por até 1 ano e 8 meses após a cirurgia, com foco na mudança de hábitos e manutenção da saúde.
Todos os meses, o programa realiza encontros presenciais com os pacientes. Nesses momentos, são abordadas orientações de saúde, troca de experiências e reforço no suporte emocional.
Nos últimos anos, o governo do Acre investiu na ampliação da estrutura física e técnica do programa. Foram adquiridos novos equipamentos, ampliadas salas de atendimento e contratados mais profissionais especializados. A ideia é acelerar o atendimento e reduzir o tempo de espera.
O acesso ao programa começa pela Atenção Básica, em parceria com as prefeituras. Caso o tratamento clínico não traga resultados, o paciente é encaminhado à Fundhacre para avaliação e, se aprovado, entra na fila da cirurgia.
Um novo começo

“Hoje, eu não tomo mais remédio para diabetes. Minha glicemia está normal. Isso não tem preço”, conta Maria Alcinete, feliz com os resultados da operação. Para ela, o programa representa uma oportunidade para quem não pode arcar com o custo da cirurgia particular. “A obesidade é uma doença crônica. Ter acesso a esse tratamento pelo SUS é uma questão de saúde pública”, conclui.
Com cada cirurgia realizada, novas histórias como a de Maria se multiplicam no Acre — de pessoas que encontraram no sistema público uma chance real de recuperar a saúde, a autoestima e a vontade de viver.