Com mais de 970 mil hectares, a Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, criada em 1990 para proteger o legado extrativista e ambiental no Acre, enfrenta desde 2018 ataques de pecuaristas, muitos oriundos de Rondônia. Embriagados por interesses econômicos, esses invasores vêm desmatando áreas de seringa para transformá-las em pastagens de gado, com o objetivo de pressionar reduções na área da unidade de conservação.
Iniciada em 5 de junho, no Dia Mundial do Meio Ambiente, a Operação Suçuarana marca uma ofensiva mais enérgica do ICMBio, contando com apoio de forças de segurança. O objetivo é retirar gado e produtores ilegais de áreas embargadas, onde persistem desmatamentos ilegais em plena Resex.
Segundo Carla Lessa, gerente regional do ICMBio, a operação concentra esforços em áreas críticas, muitas envolvidas em litígios judiciais e sujeitas a multas e embargos reiterados. A logística prevê apreensão do gado – considerado produto ilícito –, com manejo sanitário em parceria com o IDAF e destinação conforme a lei.
A operação não possui prazo definido para terminar e funciona por tempo indeterminado.
A mobilização vem gerando forte reação de entidades do campo e políticos locais, que enxergam no ICMBio um entrave aos “pequenos produtores”. A Federação da Agricultura e Pecuária do Acre (Faeac), em nome de um representante chamado Assuero Veronez, argumenta que:
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A Resex teria sido criada de forma injusta, prejudicando quem já estava na região desde antes;
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O modelo de extrativismo incentiva pobreza, levando produtores a mesclarem atividades com pecuária para sobreviver;
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A operação teria efeito de “força bruta” e estaria prejudicando pessoas vulneráveis.
Em contrapartida, o ICMBio afirma que os alvos da ação são infratores já notificados, multados, embargados ou com decisões judiciais contra, por desrespeito à lei, desmatamento, criação de gado acima dos limites e obstrução à fiscalização.
A gerente Carla Lessa reforça que:
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A operação é estritamente contra pecuária ilegal em áreas embargadas;
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Os envolvidos já haviam sido alertados e desafiado determinações administrativas e judiciais;
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A Resex é área pública federal, com regras bem definidas por plano de uso territorial que são legalmente fiscalizadas.
O presidente do ICMBio, conforme denúncia nas redes, afirmou ainda que o gado apreendido não será usado para ‘graxaria’, refutando boatos que circularam online.
Conflitos intensos vem ressurgindo em Xapuri, reavivando o temor de uma escalada de violência semelhante à de 1988, quando Chico Mendes foi assassinado. Há denúncias de ameaças a líderes extrativistas, fake news e tentativa de criminalização destes defensores do território.
Em comentário na coluna do advogado Gomercindo Rodrigues, que coronela o legado de Chico Mendes, é destacado: “urge (…) garantir a vida e a segurança dos moradores da Resex, especialmente de suas lideranças históricas”.
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O ICMBio segue nas ações de fiscalização e apreensão, com continuidade indefinida, mobilizando equipes técnicas e jurídicas para proteger a Resex e garantir destinação prevista em lei ao gado apreendido;
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O Ministério Público Federal, OAB, Defensoria Pública da União, Ministério dos Direitos Humanos e o Judiciário são chamados a intervir para garantir a integridade da Resex, dos extrativistas e combater ameaças às lideranças locais.
A Operação Suçuarana sinaliza para um ponto de virada na fiscalização ambiental na Resex Chico Mendes: o ICMBio, agora, age com mais firmeza — tentando reverter anos de pressão dos pecuaristas ilegais. Em contraposição, o campo e suas instituições criticam a operação, alegando impactos socioeconômicos. No entanto, o ICMBio se ampara na legalidade: os alvos são grileiros, já multados, com decisões judiciais transitadas em julgado e agindo em áreas embargadas.
O futuro da Resex depende agora do equilíbrio entre o rigor da fiscalização, o apoio jurídico institucional e a salvaguarda da vida dos extrativistas — herdeiros diretos da memória de Chico Mendes.
Com informações do ac24horas