Verdade seja dita: Sena Madureira historicamente negligenciou o pagamento do IPTU.
Não foi um erro de um ou outro governo. Foi uma omissão contínua.
As gestões passadas — todas elas — preferiram fechar os olhos. Fingiram não ver a inadimplência e deixaram por isso mesmo. Com o tempo, criou-se uma cultura enraizada: “IPTU não precisa pagar”. Só se lembrava dele quando era necessário regularizar algo na prefeitura — como venda ou transferência de imóvel. E mesmo assim, muitos ainda buscavam “jeitinhos”.
Agora, essa bolha estoura. O prefeito Gerlen Diniz decidiu comprar a briga. E, como já é de seu estilo, não foge da controvérsia. Colocou o dedo na ferida e fez valer a nova lei que prevê a negativação de quem não paga tributos municipais. Isso inclui o IPTU.
No começo, claro, vem a chiadeira. É compreensível. Afinal, estamos lidando com uma mudança de hábito em uma cidade onde a cobrança efetiva do imposto nunca foi tratada com seriedade.
Mas é preciso entender: o IPTU não é um “vilão”.
É uma das principais fontes de receita própria do município. Ele ajuda a custear serviços como saúde, educação, coleta de lixo, iluminação pública, manutenção de ruas e praças. Ou seja, ele volta — ou deveria voltar — para o contribuinte em forma de melhorias no cotidiano.
Quem mora na cidade e tem um imóvel se beneficia diretamente desses serviços.
E mais: o sistema é baseado em justiça fiscal. Imóveis maiores ou em áreas mais valorizadas pagam mais. Nada mais justo.
Além da arrecadação, o IPTU também tem outra função: regular o uso do solo urbano. Ele desestimula o abandono e o acúmulo de terrenos vazios, pressionando para que o espaço urbano seja melhor aproveitado.
O debate, portanto, está só começando.
A cultura do “não precisa pagar IPTU” precisa ser enfrentada com diálogo, educação fiscal e — acima de tudo — transparência.
A prefeitura agora tem a missão de mostrar, com clareza, para onde vai cada centavo arrecadado. De que forma esse dinheiro está sendo investido. Se cobrar é justo, mostrar o retorno é necessário. Isso fortalece a confiança do cidadão.
Também é hora de campanhas educativas. Não basta endurecer na cobrança — é preciso explicar o porquê dela. Criar entendimento, consciência e corresponsabilidade.
Mas aqui vai uma pergunta que precisa ecoar: a quem interessa distorcer essas informações?
Por que não ter o compromisso de mostrar a verdade às pessoas?
Nem todos querem — ou têm coragem — de fazer isso.
Nem todos têm o compromisso com o que sempre foi óbvio.
A quem interessa manter a cultura de deixar o povo cada vez mais ignorante sobre seus próprios direitos e deveres?
Essas são perguntas incômodas, mas necessárias. Porque por trás de cada crítica mal-intencionada, muitas vezes, está o interesse de manter o velho sistema funcionando — aquele onde o povo não sabe, não cobra e não participa.
Sena Madureira está diante de uma oportunidade histórica: virar a chave de uma relação antiga, viciada, entre cidadão e tributo.
Fazer do IPTU não apenas uma obrigação, mas um instrumento de transformação concreta da cidade.
Só assim o imposto deixará de ser um incômodo e passará a ser reconhecido como um investimento coletivo — transparente, justo e necessário.