15 julho 2025

Relatório aponta envolvimento de 142 empresários do agronegócio em tentativa de golpe de Estado

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(Foto: Agência Brasil ).

Um estudo divulgado nesta quarta-feira (25) pelo observatório De Olho nos Ruralistas revela que ao menos 142 empresários ligados ao agronegócio participaram, de forma direta ou indireta, da tentativa de golpe de Estado que culminou nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. Eles teriam financiado ou oferecido apoio logístico às manifestações golpistas que pediam intervenção militar e contestavam o resultado das eleições presidenciais.

Apesar das evidências, a maioria desses empresários segue impune. O dado mais alarmante do relatório é justamente esse: salvo os que foram flagrados nos atos em Brasília, nenhum dos nomes identificados respondeu juridicamente por seu envolvimento.

A investigação detalha como os financiamentos eram feitos. Em um depoimento à Procuradoria-Geral da República, o tenente-coronel Mauro Cid — ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro — afirmou ter recebido R$ 100 mil em espécie do general Walter Braga Netto, que, por sua vez, disse ter recebido o dinheiro de um empresário do setor agropecuário.

O relatório, intitulado Agrogolpistas, é resultado de quatro meses de pesquisa e analisou 1.452 nomes entre pessoas físicas e jurídicas. A equipe cruzou dados de investigados pela Polícia Federal e pelo Supremo Tribunal Federal com registros de imóveis rurais no Incra, Cadastros Ambientais Rurais, dados da Receita Federal e do Ministério da Agricultura. Apenas os casos com vínculo comprovado com o agronegócio foram incluídos.

Concentração no “Arco da Soja”

O levantamento mostra que 71% dos agrogolpistas estão concentrados em três estados: Mato Grosso (74 nomes), Goiás (17) e Bahia (13). Juntos, eles formam o chamado “Arco da Soja”, principal corredor de produção da oleaginosa no Brasil, responsável por quase metade da safra nacional.

A cidade de Sorriso (MT), maior produtora de soja do mundo, teve destaque negativo no relatório. De lá partiram 56 dos 234 caminhões estacionados em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, durante os acampamentos golpistas. Só duas famílias — os Bedin e os Lermen — foram responsáveis por 28 desses veículos. Argino Bedin, conhecido como “pai da soja” na região, chegou a ser convocado para prestar depoimento na CPMI do 8 de janeiro, mas permaneceu em silêncio. Dias depois, foi homenageado em um evento de gala do agronegócio no estado.

Além disso, o estudo identificou seis empresários envolvidos nas ações golpistas que também fazem parte da direção da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), uma das entidades fundadoras do Instituto Pensar Agro, ligado à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a bancada ruralista no Congresso.

Entre eles está Christiano da Silva Bortolotto, ex-presidente da Aprosoja-MS, conhecido por disputas territoriais com o povo indígena Guarani-Kaiowá, em Mato Grosso do Sul.

O relatório também denuncia o envolvimento indireto de bancos e grandes multinacionais com empresários ligados ao golpismo. Instituições como Santander, Rabobank, BTG Pactual e empresas como Syngenta e John Deere aparecem com vínculos financeiros ou contratuais com os investigados.

Apesar da gravidade das descobertas, nenhum dos 142 empresários listados foi processado ou preso por financiar os atos antidemocráticos. Nem mesmo os donos dos caminhões identificados no QG do Exército entraram na denúncia apresentada pela PGR ao STF, que focou apenas nos seis núcleos organizadores da tentativa de golpe.

Segundo os autores do relatório, a impunidade e o silêncio institucional permitem que esses empresários escapem da responsabilização e se tornem “invisíveis” no debate público, como se o apoio ao golpismo tivesse partido apenas de setores militares ou políticos.

Sinais desde 2022

O envolvimento do agronegócio com o radicalismo político não é novidade. Em 2023, o mesmo observatório já havia publicado o dossiê As Origens Agrárias do Terror, que revelou vínculos agrários de 44 empresários e políticos com os atos golpistas e bloqueios em rodovias. A nova investigação amplia esse número para 142 nomes.

Dois anos depois dos atentados à democracia brasileira, o cenário é de pouca responsabilização para quem financiou e incentivou a tentativa de ruptura institucional. O relatório “Agrogolpistas” promete ser o primeiro de uma série de reportagens que continuarão investigando o papel do agronegócio na articulação de atos antidemocráticos no país.

Informações via brasil247.com

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