
A pequena Aurora Maria Oliveira Mesquita, internada desde 25 de junho no Hospital João XXIII, em Belo Horizonte (MG), foi submetida a um enxerto de pele nos dedos dos pés nesta quarta-feira (9). O procedimento foi antecipado pelos médicos após constatarem que as queimaduras atingiram até os ossos, elevando o risco de amputação.
Aurora sofreu queimaduras de 2º e 3º graus após um banho na maternidade de Cruzeiro do Sul, no Acre. Inicialmente, os médicos não fariam o enxerto nesse momento, mas decidiram agir diante da gravidade. Parte da pele usada no procedimento foi retirada da panturrilha da própria bebê.

Segundo o pai, Marcos Oliveira, a menina continua na UTI e segue em recuperação. A equipe médica optou por não entubá-la novamente, como chegou a ser cogitado. “Agora seguimos em oração e com esperança para que esse enxerto funcione e ela se recupere bem. Cada dia é uma batalha”, escreveu o pai nas redes sociais.
Queimaduras confirmadas
No último sábado (5), o secretário de Saúde do Acre, Pedro Pascoal, confirmou que as lesões da bebê foram provocadas pela água quente usada no banho. A hipótese de epidermólise bolhosa — doença inicialmente levantada — foi praticamente descartada pelas equipes médicas de Minas Gerais.

“Ela sofreu queimaduras de 2º e 3º graus. As características da evolução do quadro confirmam que não se trata da doença genética”, afirmou o secretário.
Desde o início, a família apontava que a bebê havia sido queimada durante o banho. O pai, inclusive, registrou um boletim de ocorrência, e a Polícia Civil do Acre abriu um inquérito. Testemunhas relataram que a água estava excessivamente quente, e a técnica de enfermagem responsável pelo banho foi afastada.
Investigações em andamento
A Secretaria Estadual de Saúde instaurou um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) para apurar a conduta da profissional, que poderá ser demitida. A servidora é contratada via regime celetista pelo Instituto de Gestão da Saúde do Acre (Igesac), o que facilita a demissão, segundo o governo.
Além disso, o Ministério Público do Acre (MP-AC) e o Conselho Regional de Enfermagem (Coren) acompanham o caso. A amostra de pele da bebê foi enviada para São Paulo para confirmar a ausência da doença genética. O resultado pode levar até 45 dias.

“Todo mundo duvidou da gente. Só quem acreditou foi a nossa família”, desabafou Marcos Oliveira. “Fui até chamado de leigo por um médico. Coloquei a mão dele na água pra ver se não queimava”, completou.
Reação e medidas
O caso gerou forte comoção. O secretário Pedro Pascoal disse que novas medidas estão sendo tomadas para evitar situações semelhantes. Equipes do Núcleo de Segurança do Paciente estão em Cruzeiro do Sul orientando os gestores da maternidade. Protocolos operacionais estão sendo implementados, e o núcleo também será implantado na Maternidade do Juruá.
Quadro clínico
Aurora chegou a sofrer uma parada cardiorrespiratória no dia 27 de junho, quando os médicos tentaram retirar a sedação. Ela foi reanimada e permaneceu sob cuidados intensivos.
No início de julho, a menina teve melhora e pôde finalmente ser colocada no colo pelos pais, após dias de internação.
A família segue acompanhando a bebê em Belo Horizonte, onde ela permanece sob cuidados especializados no hospital referência em tratamento de queimados.