Enquanto economistas e representantes do setor produtivo alertam para os efeitos da nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, um grupo expressivo de políticos bolsonaristas comemorou publicamente a medida, enxergando nela um gesto de apoio do ex-presidente norte-americano Donald Trump ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
A medida, anunciada por Trump como retaliação à “perseguição política” contra Bolsonaro — réu por suposta tentativa de golpe no Brasil —, gerou forte reação nos mercados. O real sofreu queda de 2,5%, a Bolsa brasileira recuou, e setores como o agronegócio, siderurgia e aviação começaram a contabilizar perdas. Ainda assim, parlamentares aliados de Bolsonaro exaltaram a decisão como uma demonstração de lealdade internacional.
“Obrigado pelo apoio, @realDonaldTrump. Nosso grande presidente Bolsonaro está sofrendo perseguição por um regime comunista”, declarou o deputado federal Paulo Bilynskyj (PL-SP) nas redes sociais.
Ideologia acima da economia
A reação revela um fenômeno preocupante: a supremacia da ideologia sobre os interesses econômicos nacionais. Na visão de parte da base bolsonarista, o apoio externo — ainda que venha com um alto custo — seria uma espécie de “prova de fidelidade” à figura de Bolsonaro e uma forma de condenar o Supremo Tribunal Federal (STF), acusado por eles de promover uma “caçada política”.
A defesa da tarifa por aliados de Bolsonaro escancara o paradoxo: aplaudir um ataque direto à economia nacional como se fosse uma conquista política. Especialistas alertam que essa postura pode abrir precedentes perigosos. Ao justificar prejuízos econômicos com base em disputas ideológicas, parte da classe política ignora os impactos concretos sobre empregos, renda e a estabilidade cambial do país.
Consequências diretas ao Brasil
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Agronegócio ameaçado: Produtos como soja, café, carne bovina e celulose podem perder competitividade nos EUA.
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Desvalorização do real: O dólar comercial atingiu patamares próximos de R$ 6,00.
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Empregos em risco: Empresas com foco exportador já avaliam cortes e redirecionamento de mercado.
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Isolamento diplomático: O Brasil pode ver sua relação bilateral com os EUA subordinada a questões internas e partidárias.
A aproximação entre Trump e Bolsonaro, ambos líderes populistas com forte apelo em redes sociais e histórico de ataques a instituições democráticas, ultrapassou fronteiras políticas e virou um símbolo de “resistência conservadora global”. Mas agora, esse alinhamento ideológico começa a cobrar um preço — e quem paga é o povo brasileiro.
Enquanto os EUA miram seus próprios interesses econômicos e eleitorais (Trump tenta atrair o voto latino e fortalecer sua base ultraconservadora), o Brasil se vê como palco de uma disputa externa que ameaça sua soberania econômica.
Celebrar uma sanção internacional como “apoio político” pode parecer estratégico para certos grupos, mas é um caminho perigoso. O Brasil não pode se permitir virar refém de disputas ideológicas travadas por líderes estrangeiros. A economia nacional não é arma política, e os efeitos das decisões de hoje poderão custar caro à sociedade amanhã.







