
Nascido na periferia de Rio Branco, o ator acreano Gabriel Knoxx tem levado o nome do Acre ao cenário nacional e usado a arte como ferramenta de mudança social. Ganhador do prêmio de Melhor Ator Brasileiro no Festival de Cinema de Gramado por sua atuação no longa Noites Alienígenas (2022), ele retorna ao estado para gravar seu novo filme, Rio Torto, que vai abordar, com delicadeza e profundidade, o feminicídio e a simbologia do Rio Acre na vida dos moradores da região.
Filho de uma empregada doméstica, criado por três mulheres em um bairro periférico da capital, Knoxx saiu de casa aos 14 anos. Enfrentou dificuldades extremas — fome, noites nas ruas e a constante luta por oportunidades. Foi na arte que encontrou refúgio e, mesmo sem experiência, encarou o teste que mudaria sua vida: deu vida ao personagem Rivelino em Noites Alienígenas, dirigido por Sérgio de Carvalho.
A arte como caminho de superação

Desde então, a vida de Knoxx mudou completamente. Além de seguir carreira no cinema, ele integra a equipe da Mídia Ninja, onde atua na produção de eventos culturais. “A arte me tirou da condição de sobrevivência e me permitiu sonhar. Hoje vivo do cinema e realizo produções culturais. Isso é um sonho que se concretizou”, conta.
Knoxx vê na arte um motor de transformação social, principalmente para comunidades periféricas. “O cinema do Acre tem potência para se destacar no Brasil e no mundo. Nossas histórias precisam ser contadas por nós mesmos. Temos profissionais incríveis e narrativas únicas”, defende.
Cultura como prioridade e direito

Durante os últimos anos, o Acre tem fortalecido o setor cultural. Só em 2024, a Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM) viabilizou cerca de R$ 41 milhões em investimentos por meio das leis de incentivo Aldir Blanc e Paulo Gustavo, além do Fundo Estadual de Cultura.
Knoxx reconhece a importância desses recursos. “Essas leis de incentivo são fundamentais para que possamos produzir e contar nossas histórias sem depender de produtoras de fora. Isso nos dá autonomia e voz”, afirma.
O presidente da FEM, Minoru Kinpara, destaca que esse momento é histórico para a cultura acreana. “Esse investimento é inédito. Fizemos escutas com artistas e produtores culturais para garantir que os editais fossem construídos de forma democrática e transparente. Os frutos disso já aparecem em produções como as de Gabriel Knoxx, que expressam nossa identidade, nossa história e nossas lutas.”
Cinema que denuncia e transforma

O novo longa Rio Torto, que será gravado no Acre, mergulha em uma temática urgente: o feminicídio. A trama acompanha uma mulher que, ao fugir de um relacionamento abusivo, encontra refúgio e libertação nas margens do Rio Acre, guiada por um catraeiro. “O rio é mais que cenário, é personagem. Representa o tempo, a resistência e a cura”, explica Knoxx.
Além do longa, o ator também prepara um curta-metragem contemplado pela Lei Paulo Gustavo, que também será rodado no estado.
Seu sonho, no entanto, vai além das telas: Gabriel quer levar arte para dentro das comunidades. “Quero abrir casas de cultura nos bairros, para que crianças possam, depois da escola, aprender música, teatro, desenho, e explorar todo seu potencial. Quero que todas tenham acesso, sem exceção.”
Protagonismo acreano
Para Knoxx, o sucesso de Noites Alienígenas mostrou o quanto o Acre tem a oferecer ao cinema brasileiro. “Nosso estado foi colocado no mapa do cinema nacional. Isso prova que, com apoio, podemos ir ainda mais longe.”
Ele defende que o investimento em cultura não é gasto, mas transformação. “Só a cultura e a educação vão resgatar a autoestima do nosso povo. Precisamos de políticas públicas sérias que fortaleçam a arte, o cinema, a dança, o teatro. Precisamos ser os protagonistas das nossas histórias. E os empresários também devem entender que investir em cultura é investir no futuro.”
Ao falar de Rio Torto, ele finaliza com um chamado à consciência: “O filme é uma denúncia visual sobre os relacionamentos abusivos e o sofrimento das mulheres nesses ambientes. Queremos que essa mensagem alcance o maior número possível de pessoas. É um debate urgente que todos devemos abraçar.”