
As lesões que atingiram os pés e as pernas da bebê Aurora Maria Oliveira Mesquita foram causadas por queimaduras com água quente durante o banho no Hospital da Mulher e da Criança Irmã Maria Inete, em Cruzeiro do Sul, no interior do Acre. A confirmação foi feita pelo secretário de Saúde do Estado, Pedro Pascoal, neste sábado (6) ao g1., com base no boletim médico emitido pelo Hospital João XXIII, em Belo Horizonte (MG), onde a criança segue internada.
Segundo o secretário, os médicos mineiros descartaram a suspeita inicial de epidermólise bolhosa, uma doença genética levantada pela equipe médica do Acre. “As características da evolução do quadro levam a concluir que realmente foi queimadura. Ela sofreu queimaduras de 2º e 3º graus”, declarou Pascoal.
Desde o início, a família da bebê afirmava que as lesões foram causadas pela água quente utilizada no banho. O pai da criança, Marcos Silva Oliveira, registrou um boletim de ocorrência contra o hospital, e a Polícia Civil instaurou inquérito para investigar o caso. Servidores da unidade foram ouvidos e a técnica de enfermagem que deu banho na recém-nascida foi afastada. Testemunhas confirmaram que a temperatura da água estava excessivamente elevada no momento do banho.
Além da investigação policial, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesacre) também instaurou um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) para apurar a conduta da servidora. O Ministério Público do Acre (MP-AC) e o Conselho Regional de Enfermagem (Coren) acompanham o caso. A bebê também teve material coletado para exames genéticos, mas a suspeita de doença é considerada mínima, e o resultado deve sair entre 30 e 45 dias.
“Fomos desacreditados”
Para o pai de Aurora, a confirmação do laudo médico foi um alívio e, ao mesmo tempo, um desabafo. “Todo mundo duvidou da gente. Só quem acreditou foi a nossa família. Fui chamado até de leigo pelo médico lá de Cruzeiro do Sul. Coloquei a mão do médico, da diretora e da pediatra na água pra ver se não queimava. Mas tentaram colocar uma doença na minha filha que ela não tem”, lamentou Marcos.
Ele relatou ainda que a bebê, que chegou a sofrer uma parada cardiorrespiratória no último dia 27, segue em recuperação. Na quarta-feira (2), Aurora foi extubada e voltou a respirar sem ajuda de aparelhos. “Como pai, eu sabia. Só eu e minha esposa sabemos o que passamos naquela sala. Não desejo isso para ninguém. Nossa filha passou 39 minutos sem vida. Deus a trouxe de volta”, desabafou.
Servidora pode ser demitida
Com a confirmação de que houve queimadura, o secretário Pedro Pascoal afirmou que a técnica de enfermagem envolvida no caso pode ser demitida ao fim do PAD. “Ela é concursada pelo Igesac, que tem regime celetista, menos burocrático”, explicou.
Pascoal informou ainda que o Núcleo de Segurança do Paciente foi enviado a Cruzeiro do Sul para orientar a equipe da maternidade e reforçar os protocolos de segurança. “Vamos implantar o Núcleo de Segurança do Paciente na maternidade do Juruá. Protocolos operacionais serão implementados para cada situação específica”, acrescentou.
Quadro clínico
Na quinta-feira (3), Aurora passou por troca de curativos e, segundo o pai, nova avaliação será feita nesta segunda-feira (7) para definir se será necessário algum procedimento cirúrgico. “Graças a Deus, ela tem reagido bem”, disse Marcos, emocionado ao relatar que, após dias de espera, ele e a esposa puderam novamente pegar a filha no colo.
“Depois de tudo que passamos, não tem sensação melhor. A mãe dela ficou um bom tempo com ela no colo. Estamos muito confiantes na recuperação dela”, finalizou.