Jade Picon vive hoje uma fase curiosa na carreira. Depois de ter sido alvo de críticas intensas em “Travessia”, ela reaparece mais madura e mais segura como a vilã Soraia na novelinha vertical “Tudo por uma Segunda Chance”, que a Globo distribui nas redes sociais. A comparação entre os dois momentos revela muito menos sobre talento e muito mais sobre contexto.
Em “Travessia”, Jade estreou no horário mais competitivo da televisão, com um papel que exigia fôlego emocional, domínio técnico e experiência de cena. Era uma estreia grande demais para alguém que ainda aprendia o básico da rotina de gravação, e isso a colocou sob um holofote que amplifica qualquer deslize. A crítica foi dura, em parte pela responsabilidade do papel, em parte pela resistência natural que ainda existe quando figuras da internet migram para a teledramaturgia tradicional.
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Na novela feita para o celular, com capítulos que duram cerca de 2 minutos, o ambiente é completamente diferente. Mesmo interpretando outra vilã, Jade está dentro de um formato pensado para plataformas digitais. As cenas são mais curtas, a trama é mais direta e a construção dos personagens não precisa mergulhar em tantas camadas psicológicas. É um tipo de produto que funciona quase como uma escola prática.
Exige agilidade, espontaneidade e ritmo, características que ela domina por vir do universo das redes. O resultado aparece na tela. Jade está leve, solta e visivelmente mais confortável com a câmera. A atuação ganha naturalidade, e a personagem cresce no tempo certo, sem o peso de carregar uma novela das nove nas costas.
Por isso, a pergunta nunca deveria ter sido se Jade errou ao aceitar “Travessia”. Ela foi escolhida porque diretores acreditaram que daria conta, e não cabe ao ator recusar oportunidades desse tamanho. O que faltou foi tempo. Se a estreia tivesse acontecido em um projeto menor, como esse atual, o público teria acompanhado o desenvolvimento dela de forma mais suave, sem o julgamento impiedoso que marcou sua primeira passagem pela dramaturgia.
Este projeto novo mostra que Jade observa, aprende e aplica. Não está pronta, mas está crescendo. E quando o projeto conversa com o momento dela como artista, a evolução salta aos olhos.






