Imagine só: em 2029, o Brasil recebendo o mundo de novo, dessa vez com a Copa do Mundo de Clubes. Flamengo, Palmeiras, Real Madrid, Al Ahly, Monterrey, Barcelona, e um time da Malásia com nome de aplicativo de delivery disputando o título. Os estádios vibrando, o povo animado, a Brahma e a Coke faturando e o mundo elogiando nossa festa — como fizeram em 2014. Só que, dessa vez, sem a parte dos estádios superfaturados, sem “arenas no meio do nada” e, por favor, sem 7×1, e se tiver que ser de 10×0, que seja do Flamengo no Bayern.
Para isso, temos muito a aprender. E não só com nossos erros. Vamos copiar, com orgulho e sem plágio, o que deu certo em outro lugar: Seul, na Coreia do Sul. Eles fizeram Olimpíadas, moradias novas e ainda mandaram embora o presidente ladrão. A gente pode fazer igual. Com algumas adaptações, claro. Aqui, em vez de expulsar os dirigentes antes do evento, a gente já começa com um pacto: “Rouba não, que a FIFA tá olhando”. Eu estive lá e acompanhei tudo, das construções e da política.
Estádios prontos, sem reinventar o cimento
A primeira regra do sucesso é simples: não mexa no que já está pronto! O Maracanã continua lindo, o Mineirão está inteiro, a Arena da Baixada pode receber até disco voador. Temos estádios pra dar e vender — e muitos ainda pagando a parcela do último mundial. Eu preferia o antigo Maracanã, mas? Então, meus bichinhos, nada de novas licitações com nomes esquisitos e ODEBRECHTS recém-nascidas que já chegam com sede de superfaturar. Vamos usar o que temos. No máximo, dar uma lixada, trocar os refletores e encher de wi-fi e QR Code pra gringo tirar selfie. Gringo adora tecnologia. Não façam planos de gastos. Nós dividiremos essa Copa do Mundo com a campeã Argentina, Uruguai e Chile. Ninguém planeje qualquer coisa sem a divisão entre países da América do Sul.
Segurança é o nome do jogo
Outra lição coreana: se-gu-ran-ça. Não adianta ter estádio bonito se o torcedor é assaltado no caminho.
Vamos aprender com os sul-coreanos: policiamento eficiente, tecnologia em cada esquina, e uma logística que não deixa ninguém perdido entre o aeroporto e o hotel. É no Exército e seus carros, ajudando a Polícia e os ainda queridos Bombeiros, que o mundo vai acreditar para vir até o Brasil. Do jeito que está, nenhum torcedor virá.
Aliás, por que não repetir a ideia da Coreia de usar o evento para melhorar, um dos nossos pontos fracos como a saúde, educação ou segurança? Eles construíram bairros e conjuntos habitacionais inteiros com dinheiro que veio dos próprios visitantes! Hospedagem de qualidade, hotéis populares com ar-condicionado e chuveiro quente, tudo pago por quem vem — e depois vira benefício pra população. Genial! Eu fiquei em um apartamento em que o casal, que teve a poupança paga pelos brasileiros que ficaram hospedados lá, mandou cartões de agradecimento por quatro anos com retratos dos filhos que chegaram.
Um pacto nacional (sem roubalheira, por favor)
Mas pra tudo isso funcionar, a gente precisa de uma palavrinha mágica: pacto. Não é de sangue, nem com entidades das encruzilhadas. É com o bom senso. Um acordo entre políticos, empresários, caminhoneiros, MST, torcedores e até juízes de VAR: “Vamos fazer bonito pra não passar vergonha mundial”.
Nada de CPI na semana da final, nada de ministro fazendo vaquinha pra tapar buraco de estrada. A credibilidade é o maior prêmio. O dinheiro do mundo inteiro só entra onde ele se sente seguro pra ficar e, se der mole, se multiplicar. O dinheiro só entra por uma porta, quando tem dois janelões para sair. Dois ítens do pacto coreano:
1- Só retornaremos às reivindicações políticas ao presidente do país, depois das Olimpíadas. Depois dos Jogos Olímpicos eles voltaram a exigir explicações ao presidente e o destituíram.
2- Proibiram pratos com cachorros, uma iguaria coreana. Nos dois últimos dias eu pedi ao filho da senhora que me atendia , na CEASA de Seul, um prato de cachorro. Ele falou, reservadamente, para a mãe, e ela explicou ao filho já bem risonho. Ela disse que todas as noites que você chega atrasado, você come cachorro e coloca muito sal e pimenta-do reino. Muito mal gosto do brasileiro. Os au-aus tinham um ligeiro gosto de frango… mal temperado.
Imitemos a Coreia com o cantado sotaque brasileiro
A Coreia fez bonito, mas não teve carnaval, feijoada, nem torcedor fantasiado de Pikachu na arquibancada. Nós temos isso tudo e ainda o talento de transformar até protesto em samba. É só organizar com seriedade e deixar o povo fazer a festa. Afinal, ninguém faz recepção como o brasileiro.
E se ao final da Copa de Clubes, em vez de uma herança de dívidas, deixarmos segurança, emprego, turismo e um novo prestígio mundial? Aí sim teremos feito história. E dessa vez, sem tomar gol nos primeiros segundos, nem no último minuto das contas públicas.
Conclusão: Copa com juízo
A Copa do Mundo de Clubes no Brasil a la Seul é a chance de mostrar que o Brasil aprendeu. Podemos ser o país da bola, do samba, da empada de camarão e do planejamento. Se a Coreia conseguiu com disciplina, a gente consegue com um pouco de ordem, uma pitada de criatividade, e muito amor à camisa, seja ela : a Bananinha verde-amarela ou Vermelho-KGB.
Se o mundo for justo, em 2029 os brazukas estarão lá: recebendo bem, gastando direito, jogando bonito — e sem precisar de outro “Padrão FIFA” que custe o preço de três hospitais por lance de arquibancada. Bora fazer história, Brasil?
Roberto Caminha Filho, economista, na ajuda do Cristo Redentor e do Presidente Bukele, de El Salvador, para tornar, tudo isso, possível.






