9 outubro 2024

No Acre, 2022 foi o segundo ano com maior área queimada mapeada desde 2005

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Assim como em outros anos, o Acre, em 2022, sofreu com as queimadas que acabam se intensificando ainda mais durante o período de estiagem no estado. E dados do projeto Acre Queimadas, que envolve diversos órgãos ambientais e pesquisadores, apontam que o ano passado foi segundo ano com maior área queimada mapeada desde 2005, quando foi registrado o ano mais crítico no estado.

Sonaira Souza da Silva, engenheira agrônoma e doutora em ciências florestais tropicais e uma das principais pesquisadoras do fogo na Amazônia Sul Ocidental, é uma das autoras desse relatório. Ela resumiu que “os municípios de Feijó, Sena Madureira, Rio Branco, Tarauacá e Manoel Urbano lideraram o ranking com maior área queimada. Com relação a área queimadas em 2021, somente 5 municípios tiveram redução de área queimada. Áreas queimadas com tamanho de 10 a 50 hectares representam a maior contribuição para o total mapeado , de 41% e que as Terras Públicas lideram a contribuição de área queimadas (37%), seguida por projetos de assentamento (27%) e propriedades particulares (25%).”

Em 2022, o Acre foi o sétimo estado na Amazônia com maior aumento do número de focos de calor, segundo dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em comparação ao ano de 2021, houve aumento de 34% da quantidade de focos de calor, seguindo a tendência do aumento na taxa anual do desmatamento no mesmo período.

“Em 2022, foram registrados 322.019 ha (3.220 km2) de queimadas em áreas antropizadas, cerca de 29% maior que no ano de 2021, ano com a segunda maior estimativa desde 2005. Aproximadamente 51% do fogo mapeado em 2022, ocorreu em áreas antropizadas consolidadas, desmatadas antes de 2021. Nestas áreas, o uso do fogo está possivelmente associado às práticas de manejo agropecuário (pastagens e agricultura anual ou perene). O restante das áreas afetadas pelo fogo, que contabilizam 49% do total da área queimada, foram detectadas em áreas desmatadas em 2021 e 2022, ou seja, o fogo foi utilizado para completar o processo do desmatamento”, destaca o relatório.

Os municípios que apresentaram maior aumento em área queimada em 2022 em relação ao ano de 2021 foram: Jordão (79%), Tarauacá (69%), Feijó (62%) e Manoel Urbano (60%).

As queimadas, segundo a pesquisa, ocorrem principalmente pelo uso da terra. Foram identificadas áreas contínuas de queimadas de até 1.194 hectares em Rio Branco, na fronteira noroeste com a Resex Chico Mendes.

O relatório destaca ainda que ” a maior ocorrência de queimadas foi em terras públicas (37%), seguida por projetos de assentamento (27%), propriedades particulares (25%), unidades de conservação (15%) e terras indígenas (1%). Em relação ao ano de 2021, todas as categorias fundiárias tiveram aumento da área queimada em 2022.”

Feijó lidera o ranking de queimadas — Foto: Arquivo/Brigadistas de Feijó

Municípios mais críticos

  • Feijó

O município de Feijó está na 1º posição entre os municípios com maior área afetada pelas queimadas em 2022, com uma área de 62.051 hectares e aumento de 62% das queimadas em 2022, quando comparado com 2021. Em torno de 60% das queimadas ocorreram em propriedades particulares, 31% em terras públicas, 5% em projetos de assentamento, 3% em unidades de conservação e 1% em terras indígenas.

  • Sena Madureira

O município de Sena Madureira está na 2º posição entre os municípios com maior área afetada pelas queimadas em 2022, com uma área de 43.624 hae aumento de 31% das queimadas em 2022, quando comparado com 2021. Em torno de 41% das queimadas ocorreram em projetos de assentamento, 33% em terras públicas, 12% em propriedades particulares, 12% em unidades de conservação e 1% em terras indígenas.

  • Rio Branco

O município de Rio Branco está na 3º posição entre os municípios com maior área afetada pelas queimadas em 2022, com uma área de 39.662 ha e aumento de 17% das queimadas em 2022, quando comparado com 2021. Em torno de 40% das queimadas ocorreram em propriedades particulares, 32% em terras públicas, 15% em unidades de conservação e 13% em projetos de assentamento

Projetos de Assentamentos

Os projetos de assentamentos rurais do Incra foram os que mais contribuíram com as áreas queimadas no Acre, representando 27% de todas as áreas mapeadas (88.421 hectares), com um aumento de 13% das áreas queimadas em 2022, quando comparado com 2021. Mesmo que os projetos de assentamentos tenham como base atividades agropecuárias, da forma como vem ocorrendo, tem proporcionado o aumento das áreas queimadas em 2022.

Queimadas (polígonos na cor rosa) e incêndios florestais (polígonos na cor violeta) no entorno da cidade de Rio Branco, Acre em 2022 — Foto: Reprodução

Unidades de conservação

As Unidades de Conservação representam 15% (49.614 ha) do total das áreas queimadas no Acre em 2022, apresentando um aumento de 26% das áreas queimadas em 2022, quando comparado com 2021. Estas áreas têm como objetivo garantir a preservação da biodiversidade biologia, promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais e proteger as comunidades tradicionais, bem como seus conhecimentos e culturas (Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC).

Entretanto, essa categoria segue ameaçada por grandes pressões de atividades agropecuárias. Das 20 unidades de conservação, somente seis delas representam cerca de 85% da área queimada total nessa categoria fundiária – Resex Chico Mendes (60%), Floresta Afluente (6%), Resex Cazumbá Iracema (6%), Resex Alto Juruá (5%), Floresta Antimary (4%) e Floresta do Rio Gregório (4%).

Incêndios florestais

Em 2022 foram mapeados 11.429 ha de incêndios florestais, fogo na floresta em pé. Neste ano, foi identificado as condições do evento de La Niña, que normalmente causa aumento de chuvas na região norte e nordeste do Brasil, condições que podem controlar o desenvolvimento de grandes incêndios florestais. Contudo, foram registradas 36 áreas com incêndios florestais maiores que 50 ha, elencando os maiores, localizados na Resex Chico Mendes no município de Xapuri com 625 ha e no município de Porto Walter com 472 ha.

Incêndios contínuos e de grande magnitude não haviam sido registrados por este projeto em anos que não sejam de El Niño, ou de aquecimento anômalo do oceano Atlântico, eventos climáticos que causam secas severas no Acre. Em 2022, identificamos incêndios florestais em municípios, que nunca havíamos registrado antes, como Porto Walter e Tarauacá, municípios com pouca fragmentação e extensa cobertura florestal.

Dos incêndios florestais mapeados, 37% estão localizados em unidades de conservação e 17% em projetos de assentamento, principalmente na Resex Chico Mendes e Áreas de Proteção Ambiental urbanas, Lago do Amapá e do Igarapé São Francisco. As áreas periurbanas da cidade de Rio Branco, são um ambiente de queimadas e incêndios florestais recorrentes. Além disso, o cenário para a Resex Chico Mendes nos últimos anos tem sido crítico.

Por: G1 – Acre.

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