7 abril 2025

Com falsa candidatura, Felipe Neto expõe perigo do autoritarismo digital

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Felipe Neto, que já foi de vilão a porta-voz do bom senso nas redes sociais, voltou a causar nesta sexta-feira (4). Depois de anunciar — falsamente — sua candidatura à Presidência da República, o influenciador revelou que tudo não passou de uma campanha de marketing para divulgar o audiolivro “1984”, clássico de George Orwell, agora disponível na plataforma Audible.

A jogada foi arriscada, mas certeira: usando um discurso recheado de frases autoritárias e promessas distópicas, Felipe encarnou um personagem que flertava com o totalitarismo. Falou em controle da informação, rede social “Nova Fala” e centralização do discurso. Muita gente acreditou. Pior: muitos aplaudiram.

E é aí que mora o problema.

A ação, pensada para provocar reflexão, acabou expondo uma realidade incômoda: ainda há quem aceite — e até deseje — soluções fáceis e centralizadoras, mesmo que custem direitos e liberdade. O próprio influenciador ficou assustado com a quantidade de pessoas que não só não perceberam a ironia, como demonstraram apoio à falsa candidatura.

Em seu vídeo de esclarecimento, Felipe foi direto: “Tudo que eu falei é o oposto do que acredito. Se você acreditou, ou pior, se você gostou, talvez precise ler mais. A literatura é a maior arma contra o autoritarismo.” E tem razão. Num país onde a polarização contamina até o mais básico senso crítico, ações como essa servem de espelho — e o reflexo nem sempre é bonito.

A Audible escalou um time de peso para a versão brasileira de “1984”: Lázaro Ramos, Mateus Solano, Alice Carvalho e Milhem Cortaz dão voz aos personagens do livro. Com trilha sonora e ambientação dramática, o objetivo é aproximar o público de uma das obras mais importantes da literatura mundial — e mais urgentes de serem compreendidas.

No fim das contas, Felipe Neto não queria votos, mas leitores. E conseguiu mais do que engajamento: fez o país encarar, ainda que por alguns minutos, o risco de se deixar seduzir por ideias que deveriam causar repulsa.

Porque o autoritarismo nunca se apresenta como vilão. Ele se veste de solução.

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