25 abril 2024

Infratores ambientais doaram R$ 10,4 milhões para diferentes candidatos

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Brasileiros que cometeram infrações ambientais aparecem entrem os financiadores de campanhas eleitorais deste ano. Até agora, 180 pessoas autuadas pelo Ibama sob acusação de terem praticado delitos ambientais já contribuíram com um total de R$ 10,4 milhões para candidaturas de diferentes partidos. Entre os beneficiários há dez candidatos a governos estaduais, oito postulantes ao Senado, 47 à Câmara dos Deputados e 67 às assembleias legislativas de vários estados.

O levantamento foi feito pelo O GLOBO com base no cruzamento das informações presentes nas planilhas de penalidades aplicadas pelo Ibama, que vão de 1997 a 2022, e de doadores registrados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até a última sexta-feira. Somadas, as multas aplicadas aos infratores doadores somam R$ 251 milhões. Os dois partidos que receberam o maior volume dessas contribuições integram a coligação do presidente Jair Bolsonaro. O líder é o PL, legenda à qual o chefe do Executivo está filiado, com R$ 2,3 milhões, seguido do Republicanos, com R$ 1,6 milhões. Logo depois, aparecem o MDB, com R$ 1,2 milhão, e o PSD, com R$ 962 mil.

As contribuições financeiras são feitas diretamente às campanhas, que muitas vezes sequer são informadas previamente de que determinada doação será realizada.

Até agora, Bolsonaro é o único candidato ao Palácio do Planalto que aparece na lista de agraciados com contribuições de infratores. Ele recebeu R$ 558 mil de pessoas punidas pelo Ibama. Em mais de uma ocasião, o presidente já criticou o trabalho realizado pelo órgão. Durante a sabatina ao Jornal Nacional, na semana passada, ele afirmou que seus agentes cometiam “abuso” ao destruir o maquinário de desmatadores ilegais, o que é previsto em lei.

Faz parte do grupo que contribuiu com a campanha à reeleição do presidente o empresário que recebeu as multas mais pesadas — o ex-prefeito de Flora Rica José Aguiar Filho. Ele foi penalizado por multas que somam R$ 59 milhões por “desmatamento” e “destruição” de áreas de preservação e floresta nativa.

Em seguida, na lista dos dez maiores infratores que doaram ao presidente constam os ruralistas Marcos Carvalho Costa Junior, Eloi Domingos Bachinski e Moises Debastiani. Eles foram autuados em R$ 35 milhões, R$ 18 milhões e R$ 9 milhões, respectivamente, por práticas como desmatar, realizar queimadas sem autorização e dificultar a regeneração natural de vegetação nativa em área embargada.

Candidatos autuados
O GLOBO procurou os três. Em seu escritório, representantes de Bachinski informaram que ele está em tratamento de saúde e não poderia responder. Carvalho e Debastiani não retornaram. A campanha do presidente Bolsonaro também não se pronunciou.

Há políticos que estão entre os beneficiados por contribuições de infratores, mas também já foram penalizados. É o caso do pré-candidato ao Senado Antônio Galvan (PTB), presidente licenciado da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja). A campanha dele recebeu R$ 499.500 em repasses de cidadãos autuados por infrações ambientais.

O próprio Galvan foi alvo de multas aplicadas pelo Ibama que chegam a R$ 6,1 milhões. O órgão o acusa de participar da operação de um aeródromo que controlava o despejo aéreo de agrotóxico e por atividade “potencialmente poluidora” de depósito de combustível. Procurado por meio de sua assessoria, ele não respondeu.

Outro nome que aparece nos dois lados do processo é o do candidato a deputado federal por Rondônia Robsão Moreira, o Robão da Central do Boi (PSC). Com multas ambientais no valor de R$ 7 milhões, ele doou para si mesmo R$ 50 mil. Por meio de seu advogado, o pecuarista negou ter provocado dano ambiental.

— Não é justa essa multa. Ela foi lançada no nome dele, mas foi por uma situação de uma área vizinha. Um pessoal colocou fogo lá e atingiu uma área que ele possuía — afirmou o advogado Helisson Richter.

Ainda segundo o levantamento, a maior parte das doações foi feita para candidatos do Mato Grosso, que receberam R$ 2 milhões do valor doado por infratores até aqui. Na segunda colocação está São Paulo, com R$ 1,2 milhões, seguido por Santa Catarina, Pernambuco e Minas Gerais, cada um com R$ 1,1 milhão.

Procurado, o MDB afirmou que é comprometido com a causa ambiental e que “cada responsável precisa responder por seus atos, dentro do que determina a legislação”. O PSD disse que “todas as doações devem seguir a legislação vigente, com a devida prestação de contas dos candidatos à Justiça Eleitoral”. O Republicanos não quis comentar.

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