
O corpo do papa Francisco foi conduzido em uma solene procissão, na manhã desta quarta-feira (23), da Casa de Santa Marta — residência onde viveu e faleceu — até a Basílica de São Pedro, onde teve início o velório público. A cerimônia de despedida mobilizou milhares de fiéis e contou com ritos tradicionais e adaptações solicitadas em vida pelo pontífice.
A condução do caixão ficou a cargo de 14 sediários pontifícios, membros da corte papal responsáveis por tarefas protocolares e operacionais no Vaticano. Segundo o vaticanista brasileiro Filipe Domingues, os sediários atuam em diversas funções, como organização de celebrações, audiências e montagem de espaços. Historicamente, eles eram responsáveis por carregar a cadeira papal — uso encerrado com o pontificado de Paulo VI (1963–1978).
A procissão percorreu pontos emblemáticos do Vaticano, incluindo a Praça Santa Marta e a Praça dos Protomártires Romanos. O cortejo seguiu pelo Arco dos Sinos até a Praça de São Pedro, onde uma multidão aguardava para prestar as últimas homenagens ao pontífice. Estima-se que cerca de 20 mil pessoas estavam presentes no local.
Durante a passagem do cortejo, aplausos ecoaram pela praça — uma forma tradicional de demonstrar respeito na Itália. Muitos fiéis se emocionaram diante do caixão simples, disposto sem plataforma elevada, conforme o desejo do próprio Francisco, que optou por um velório mais discreto e sem ostentação.
Antes da abertura ao público, o corpo foi velado por bispos, padres e religiosos da Igreja. Ao todo, 80 cardeais e patriarcas participaram da cerimônia, presidida pelo cardeal Kevin Farrell, camerlengo da Santa Sé. Ele também conduziu um momento de oração na Casa de Santa Marta antes do início do cortejo, além da Liturgia da Palavra na basílica.
“Queridos irmãos e irmãs, com profunda dor agora acompanhamos os restos mortais do nosso papa Francisco até a Basílica Vaticana”, declarou Farrell durante a procissão.
Diferentemente da tradição que previa três urnas (cipreste, chumbo e carvalho), o caixão do papa Francisco é único, feito de madeira e revestido internamente com zinco — mais uma decisão tomada por ele em vida, refletindo seu estilo pastoral e modesto.
O velório seguirá aberto ao público até sexta-feira (25). Às 15h, no horário de Brasília (20h local), o caixão será fechado.
O funeral oficial será realizado no sábado (26), às 10h no horário de Roma (5h de Brasília), com uma missa solene presidida pelo cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio dos Cardeais. A celebração marcará o início dos “novemdiales”, os nove dias de orações em homenagem ao papa falecido.
Francisco também escolheu seu local de descanso eterno: a Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, onde costumava rezar antes e depois de suas viagens apostólicas — uma escolha simbólica, em contraste com a tradição de sepultamento na cripta da Basílica de São Pedro.