
Aos 84 anos, o aposentado Valdemar Negreiros realizou o sonho de morar em uma casa diferente: em formato de barco. Ao lado da esposa, Lucimar Reis, ele construiu a moradia em uma pequena ilha no centro de Mâncio Lima, no interior do Acre, em homenagem à vida ribeirinha que ambos viveram.
A ideia, segundo Valdemar, surgiu da saudade dos tempos em que navegava pelo Rio Juruá vendendo mercadorias para sustentar a família. “Eu gostava muito de viajar no rio, ver a floresta e vender mercadorias para trazer sustento para casa”, relembrou.

A residência, chamada pelo casal de “casa-barco”, fica em uma área batizada de “lagoa verde”, devido à cor da água ao redor. Mais do que um lar, o espaço se tornou símbolo da luta e da resiliência dos ribeirinhos da Amazônia.
Raízes preservadas
A casa tem 25 metros de comprimento por cinco de largura, com dois quartos, sala e cozinha. Na proa, uma varanda; na popa, uma área de serviço. Para completar o cenário, há até um leme, que remete às viagens pelo Vale do Juruá.

“É como se eu estivesse viajando no rio de novo. Mata a saudade daquele tempo de trabalho”, contou Valdemar.
Lucimar, que sempre apoiou o projeto, também compartilha o orgulho de manter viva a história da família, que criou 11 filhos sustentados pelo trabalho como regatões — transportadores de mercadorias pelos rios amazônicos.
O formato inusitado da casa chama a atenção de quem passa pela região. De acordo com o vizinho Euclides Nascimento, muitos curiosos param para fotografar e admirar a construção.

“Ele sempre sonhou em construir essa casa. Agora, depois de quatro anos, conseguiu. Quem passa aqui se encanta”, disse.
Apesar de já estar morando no local, Valdemar ainda tem planos para a casa-barco, como a criação de móveis temáticos.
Navegar ainda faz parte da vida

Mesmo com a idade avançada e a rotina mais tranquila, Valdemar não abandonou o gosto pela navegação. Ele ainda possui um barco de alumínio que utiliza para passeios pelo Rio Môa, visitando comunidades e pescando com a família.
“Quando paramos de viajar profissionalmente, resolvemos comprar um barco menor para lazer. Assim continuamos a tradição, agora só para passear”, explicou.